Parece óbvio. E é. A despedida do palco-caminhão País das Culturas Populares do Festival Pernambuco Meu País, neste domingo (21), em Serra Negra, município de Bezerros (Agreste pernambucano), começou já em clima de grande festa. O Bonde Bloco Carnavalesco Lírico fez ferver o povoado com suas pastoras, orquestra, flabelo e foliões tocando temas próprios e standards do tradicional frevo de bloco sob um sol bem aconchegante. O que não dava para prever, principalmente em se tratando de um domingo, era que a localidade seria totalmente tomada ao longo do dia por uma multidão muito maior até mesmo do que o público que compareceu no sábado.
O Bonde, bloco formado no Recife em 1991, fez uma apresentação dedicada à reverência. Aos cânones do frevo e ao representante local, o Bloco Carnavalesco Bebê na Serra (de 2013, um bebê de verdade), num emocionante encontro de flabelos. Depois, o palco-caminhão foi tomado pelos ritmos de matrizes africanas.
Referência em seu ritmo, o Coco do Pneu, do bairro Amaro Branco, em Olinda (PE), fez a plateia levantar a poeira sob o comando de mestre Lu. Grupo formado há 35 anos na famosa comunidade de pescadores da Cidade Patrimônio da Humanidade, o Coco do Pneu ainda comemora a recente certificação como Ponto de Cultura pelo governo federal. Contou com uma participação especial de Mãe Benta, 73 anos, genitora de mestre Lu. Ela deveria interpretar duas canções e fez umas cinco.
O samba-reggae, outro ritmo de matriz africana que tem uma relação bastante estreita com a cena pop pernambucana (basta lembrar que um desses conjuntos, o Lamento Negro, foi uma das base da formação da banda Chico Science & Nação Zumbi), voltou à evidência no Festival Pernambuco Meu País com a performance do Bloco Afro Obá Nijè. O grupo de voz e percussão do bairro de Água Fria (Recife), formado em 1992, destilou mais de uma dezena de sucessos nacionais do gênero e algumas versões de outros ritmos.
E para a cultura negra estar completamente representada é claro que não poderia deixar de faltar o bom e velho samba, em uma de suas principais representações no Estado: o Grêmio Recreativo Cultural e Arte Gigante do Samba. Gigante pela própria natureza, a escola, também de Água Fria, subiu a serra com 50 integrantes, entre performistas (bateria, baianas, passistas, mestre-sala e porta-bandeira, outros músicos) e equipe de produção. Chegou ao País das Culturas Populares em grande estilo, desfilando pelas ruas de Serra Negra. O público, que lotou completamente o polo e adjacências, foi à loucura com o tema campeão escola Ariano Suassuna ao Palco do Sertão Brasil, seguido de hits do samba-enredo nacional.
Era para o País das Culturas Populares terminar ali, mas outro cortejo adentrou o espaço e fez mais uma participação especial: o Maracatu Estrela de Ouro, de Aliança (Zona da Mata Norte, PE), Patrimônio Vivo de Pernambuco. E quem esperava um domingo tranquilo e calmo em Serra Negra teve que se render a uma grande folia fora de época.