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Cultura

Juliana Notari revisita seus trabalhos em grande exposição individual no Recife

18 de outubro de 2024
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Foto: Divulgação

Spalt-me, em São Paulo

Depois de 8 anos desde a sua última exposição individual no Recife, Juliana Notari (Recife, 1975) reúne no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM) um amplo recorte de seus mais de 20 anos de trajetória artística. A mostra, que é a maior exposição já realizada da obra de Notari, tem curadoria de Clarissa Diniz e abre ao público no dia 19 de outubro de 2024, às 15h.

O título da exposição deriva de um dos trabalhos em exibição, a série Spalt-me que,iniciada em 2009, reúne fotografias de paisagens diversas nas quais surge uma grande fenda vermelha. Para nomear esse trabalho, a artista se apropriou do verbo da língua alemã spalten que, de modo semelhante ao inglês to spalt, indica a ação de abrir uma fissura, de separar, de rachar. Ao levar a expressão para o título da mostra, a ideia é abrir fendas que possam ajudar a compreender a poética da artista. “Acompanhado da partícula ‘me’, spalt torna-se um neologismo de caráter reflexivo, uma convocação à ideia de abrir uma fresta em seu próprio corpo, seja ele humano, arquitetônico, histórico, semântico. Spalt-me é, por isso, a imagem que, oriunda do corpo poético de Notari, se torna um convite  a percorrermos as diversas fendas de sua vasta produção”, explica a curadora Clarissa Diniz.

A exposição foi organizada em três núcleos que expõem questões centrais dentro da sua poética: corpo, ferida, gênero, carnalidade, tempo, violência, sexualidade, historicidade, linguagem, trauma, paisagem. “Clarissa acompanha meu trabalho há muitos anos, então ela trouxe essa proposta de dividir a mostra em núcleos diferentes, que abordam o meu olhar para o corpo (inclusive meus projetos em torno dos cabelos), a urbanidade, a alimentação, o risco e o cuidado. A exposição ressalta a centralidade das feridas sociais, dos traumas ligados à urbanidade e à modernidade: uma crítica ao  capitalismo falocêntrico e patriarcal. Tudo isso está na exposição”, resume a artista.

Interlocutoras há mais de dez anos, Juliana Notari e Clarissa Diniz propuseram, na exposição, um olhar ao mesmo tempo retrospectivo e prospectivo: “Fazemos o gesto artístico e curatorial de buscar uma obra antiga e jogá-la para o futuro, repensá-la, atualizá-la desde o agora”, resume a curadora. Exemplos dessa proposição são as obras Parlamento Europeu (2022-2024), Janta (2001-2024) e Spalt-me (2009-2024), que intitula a exposição.

Sobre Parlamento Europeu e Janta, diz a artista: “Em 2022, participei de um evento sobre arte e política no Parlamento Europeu, em Bruxelas. Na ocasião, fiz minha fala e vestida com uma roupa toda branca manchada com uma tinta, simulando sangue. Eu fiquei andando no Parlamento com aquela calça. Dali surgiu essa nova obra, que mostra essa calça numa instalação com um manequim e uma cadeira similar à utilizada no Parlamento. A mesa de cabelo, “Janta”, também é inédita: a que eu fiz em 2001, quando servi um jantar, era retangular. A atual é redonda e, além de cabelos humanos, uso pelos de animais que recolhi em pet shops. Então existe um processo de revisitar, de repensar e reencenar obras de outras formas, num outro tempo, o que é uma maneira de experimentar. Isso está sendo muito legal”.

Sobre a exposição e suas temáticas

O primeiro núcleo da exposição ocupa o térreo do museu e reúne obras nas quais o corpo é protagonista. São objetos, vídeos, desenhos, fotografias e performances cujas investigações desafiam padrões de beleza, limpeza e erotismo atribuídos historicamente aos corpos das mulheres. Em Soterro, a artista registrou suas percepções com o crescimento dos pelos no seu corpo após interromper o processo de depilação. “O corpo peludo passou a tensionar, na vida cotidiana de Notari, as normatividades de gênero que, numa sociedade cis-heteropatriarcal, a todo tempo enclausuram os corpos não-masculinizados em paradigmas estéticos e de sanidade que historicamente se provaram fontes de adoecimento para mulheridades de épocas e territórios diversos”, detalha Clarissa Diniz.

Também vão estar reunidos os trabalhos com os quais a artista usou cabelo humano, como a instalação e vídeo Janta (exibidos em sua primeira mostra individual no Museu da Abolição, em 2001). Ainda neste primeiro núcleo, o conjunto de três desenhos “AR-DOR”, que reage ao imaginário patriarcal da histeria, e a série Inneresteren, que apresenta bonecos de recém-nascidos nos quais Notari projeta uma fabulada trama de órgãos, fetos, veias, úteros, vértebras, células, que, quando visíveis, sublinham a sensação de corpos em decomposição.

Ferida da Bienal

No primeiro andar, o segundo núcleo apresenta obras que refletem a vivência da artista em várias cidades do Brasil e do mundo, e o seu confronto com a simbologia e a monumentalidade de uma sociedade patriarcal e colonial. Sobre essa seleção de obras, Clarissa Diniz escreve: “Acolhendo e encarando o que há de corpóreo fora de seu próprio corpo, vemos Juliana Notari tocar as feridas de nossas cidades, paisagens e territórios, experimentando a náusea e os traumas de seus fracassados projetos civilizatórios”.

Compõem o segundo núcleo obras como Ferida da Bienal e Spalt-me, que trazem o gesto de abrir fendas, rasgos, em ambientes institucionalizados, formais, arquiteturas que têm um peso histórico, revelando e desnudando seus traumas. A série Spalt-me foi revisitada pela artista especialmente para a mostra. “Spalt-me agora vem num formato de cartão-postal. Vão ser 12 cartões-postais que vão ficar disponíveis para que o público possa levá-los, levar aquela paisagem com aquela ferida”, detalha a artista.

 O terceiro núcleo trata das feridas: símbolos de dor e de vulnerabilidade para muitas culturas, e que habitam o imaginário da artista há décadas. “Mesmo quando íntimas e sentidas desde sua pele, elas são fundamentalmente chagas históricas, políticas e de gênero diante das quais nenhum corpo está seguro. Dado o compromisso da artista com as feridas de muitas e muitos de nós, sua sensibilidade para o que há de traumático em nossas vidas e sociedades considera não apenas a denúncia, o revide ou a redistribuição dessas chagas, mas também aponta para práticas terapêuticas, cuidados e curas, como revelam os trabalhos reunidos no terceiro núcleo da exposição”, escreve a curadora.

É neste núcleo que está Diva, trabalho recente da artista que gerou grande repercussão. Em 2020, Juliana Notari cortou o solo marcado pela monocultura da cana-de-açúcar da Usina Santa Terezinha, na Zona da Mata Sul de Pernambuco. São 33 metros de comprimento numa espécie de morro que se transformou na prospecção-buraco-escultura-intervenção Diva, certamente a obra de sua autoria que gerou maior repercussão, debate entre campos de pensamento opostos, cancelamentos e até ameaças de cunho misógino.

Como sublinha o último núcleo da exposição, as feridas e fendas estão por toda parte. Em Dra. Diva, série iniciada em 2003, com uma marreta, a artista passou a abrir buracos em paredes de galerias e museus: espaços de brancura historicamente higienista, racista e machista. Essas fendas recebiam sangue e nelas eram colocados espéculos para mantê-las abertas, escancaradas. As feridas também estão em Amuamas, trabalho que nasceu a partir da temporada em que a artista morou em Belém (PA). Neste trabalho, ao invés de escancarar e manter abertas as suas feridas – que, vale sublinhar, não são individuais, mas sim sociais e coletivas –, a artista penetra a floresta amazônica e as leva até a Sumaúma, árvore sagrada por suas funções curativas. Um processo, neste caso, em busca da cura.

Juliana Notari: Spalt-me ficará em cartaz até 1 de dezembro de 2024. A exposição é acessível e contará com ações educativas. Para sua realização, a mostra contou com apoio do Funcultura e da Lei Rouanet, e patrocínio do Banco do Nordeste.

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