Thaís Lima/Divulgação
Espetáculo foi produzido com incentivo do Funcultura
Propondo reflexões e sensibilização sobre a violência doméstica sofrida por mulheres, o espetáculo “A Receita” faz três apresentações abertas ao público entre julho e agosto – em Recife, Glória do Goitá e Garanhuns. Também será oferecida uma oficina em cada cidade. O registro de todas as atividades será disponibilizado por meio do diário de bordo, nas redes da artista e do seu grupo: @nanasodreoficial @oposteoficial.O projeto “A receita: sendo, fazendo e mostrar fazendo” é realizado com incentivo do Governo de Pernambuco, por meio do Funcultura.
O espetáculo adulto conta a história de uma mulher negra, beirando os 50 anos de idade, casada, com filhos e que cotidianamente sofre violência. Afastada de entes queridos, como mãe, pai, primos e amigos, ela segue a sua rotina de violência “temperando” a vida com sal, alho e coentro com cebolinha. Para esta mulher, “Há receita para tudo!”.
A peça é apresentada bem próximo do público, que pode sentir até o cheio do alho! Ao final de cada sessão, há uma gira de diálogo – uma conversa sobre o processo e o espetáculo.
Com dramaturgia e direção do artista premiado Samuel Santos, o espetáculo comemora 10 anos, e sua encenação é alicerçada na pesquisa continuada em matriz africana realizada pelo grupo O Poste Soluções Luminosas, intitulada “O Corpo Ancestral dentro da Cena Contemporânea”, pesquisa realizada no terreiro de Candomblé e Umbanda/Jurema tendo como base a ancestralidade africana. Assim, o espetáculo “A Receita” contracoloniza a cena, tendo como base a ancestralidade corporal e vocal, traçando um paralelo entre os orixás no terreiro de Candomblé e as entidades da Umbanda/Jurema.
“A Receita é um encontro com a libertação feminina. Eu queria trazer à tona temas caros a esse universo, discutir o papel da mulher na sociedade e a violência que tantas de nós sofremos. Em Pernambuco, onde a cada dia cresce o número de mulheres assassinadas por seus companheiros, como em cada canto do Brasil e do mundo. A sororidade também é discutida no espetáculo”, comenta Naná.
Thaís Lima/Divulgação
Naná Sodré discute, há dez anos, a temática em cena, por meio de um trabalho de corpo e voz rigorosos.
A oficina prática de teatro, intitulada “O Corpo Ancestral – Mostrar fazendo”, compartilhará os caminhos da poética e da pesquisa do grupo de teatro negro O Poste, do qual Naná faz parte, baseados no espetáculo “A Receita”, ou seja, a oficina prática terá o espetáculo “A Receita” como mote.
DADOS SOBRE A VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES NEGRAS – Levando em consideração o Mapa da Violência de 2015 e as pesquisas realizadas por institutos e órgãos ligados a conselhos de direitos e justiça no Brasil, a mulher negra sofre mais violência que as mulheres brancas, indígenas e orientais, um dado estatístico que aumenta a cada minuto.
Diante desse cenário, Naná acredita que levar informações sobre a violência doméstica através do teatro pode tornar visível essa situação. “Com ações afirmativas como essa, queremos ampliar a consciência das especificidades e do imaginário que estão diretamente relacionados a violência contra as mulheres negras”.
SERVIÇO:A receita: sendo, fazendo e mostrar fazendoOficina e espetáculo gratuitos
RECIFE2/08 (sexta), às 18h30Oficina “Corpo Ancestral – Mostrar fazendo” Local: Espaço O Poste Soluções Luminosas (Rua do Riachuelo, 641, Santo Amaro – Recife)
3/08 (sábado), às19hApresentação do espetáculo “A Receita” Local: Espaço O Poste Soluções Luminosas (Rua do Riachuelo, 641, Santo Amaro – Recife)
GARANHUNS 30/08 (sexta), às 19h30Oficina “Corpo Ancestral – Mostrar fazendo” Local: Museu Casa UFAPE (Rua Padre Agobar Valença, n 145, Heliópolis, Garanhuns)
31/08 – (sábado), às 19h30Apresentação do espetáculo “A Receita” Local: Museu Casa UFAPE (Rua Padre Agobar Valença, n 145, Heliópolis, Garanhuns)
As três apresentações contarão com o recurso de tradução em Libras (Língua Brasileira de Sinais), garantindo assim o acesso de pessoas com deficiência auditiva.
SOBRE NANÁ SODRÉ: Negra, mulher de teatro, mãe de Luana e mestre em Artes Cênicas pela UFRN com a pesquisa intitulada “A receita: pisando o alho no teatro negro com as mulheres negras”, pesquisa que tem como exemplo de Teatro Negro o solo A Receita. Professora em Artes Cênicas pela UFPE, instituição na qual também já foi docente. Fundou, em 2004, o grupo de Teatro Negro O Poste Soluções Luminosas, que em 2009 tornou-se grupo artístico e de investigação teatral, com o foco na pesquisa em matriz afroindígena e na visibilidade e representatividade do negro na arte/vida, pauta crucial dos espetáculos do grupo. Professora e coordenadora do projeto Escola O Poste de Antropologia Teatral. Dirige, atua e produz espetáculos e performances.
Visibiliza positivamente as mulheres negras do estado de PE, criando os projetos Quebrando O Silêncio – oficina de escrita para mulheres, a mostra PretAção – Mostra de Mulheres Pretas de Pernambuco, a primeira mostra de atrizes negras do estado de Pernambuco e a oficina Pisando o Alho, construída a partir do solo A Receita. Em 2011 no Festival Janeiro de Grandes Espetáculos, ganhou o prêmio de Melhor atriz, pelo espetáculo Cordel do Amor Sem Fim; em 2013 o prêmio de atriz coadjuvante pelo espetáculo Anjo Negro e indicação de melhor atriz pelo solo A Receita em 2015; e no mesmo ano, o grupo O Poste Soluções Luminosas ganha o prêmio de pesquisa em matriz africana pelo espetáculo Ombela. Acreditando numa formação afrocentrada desde a infância, criou em 2023 o projeto Caxixi de teatro para infância e juventude.