Foto: reprodução
Longa-metragem “Filhas da Noite”
Em mais um fim de semana ordinário, logo ali na Aurora, protagonista da vida de tantos poetas e de todo recifense, os letreiros do Cinema São Luiz convidam os passantes a aguçar o olhar crítico e sensível através da sétima arte. Quem espertamente notar o chamado, a partir do alumiar dos jarros de flores desenhados nos mais charmosos vitrais da cidade, embarcará numa programação democrática que se propõe a refletir e a acolher os mais diversos contextos socioculturais que existem e resistem. A curadoria do programador Pedro Severien terá de tudo um pouco, incluindo mostra gratuita de cinema acessível, pré-estreia pernambucana de longa-metragem, mostra de curtas também da terrinha e com acesso livre, animação para a criançada e muito mais, além de sessões-debate com realizadoras do audiovisual pernambucano e nacional.
No sábado (24), às 14h, a grade cinematográfica tem início com a mostra “VerOuvindo Circula”, que promove acessibilidade no cinema disponibilizando audiodescrição, Libras e legendas descritivas. A primeira exibição do dia será do documentário “Wadja”, dirigido por Narriman Kauane e produzido por Tayho. A obra homenageia a educadora indígena Marilena Araújo (Wadja), uma das responsáveis pela criação da Escola Bilíngue Antônio José Moreira e defensora da língua Yaathe, do povo Fulni-ô. A sessão contará com a presença da comunidade surda e indígena, promovendo um encontro simbólico de culturas e lutas por reconhecimento linguístico. Haverá debate com a equipe do VerOuvindo e convidados.
A ideia do documentário nasceu da própria Wadja. Foi ela quem procurou Tayho para propor um filme biográfico, centrado em sua vida, seus documentos e sua atuação como educadora. Durante cerca de um ano, produtor e personagem trocaram ideias, enquanto o roteiro era gestado e a proposta era submetida a editais públicos. Mas, antes que os recursos fossem liberados, Wadja faleceu. “Tivemos que mudar todo o plano de filmagem”, relembra Tayho, que enfrentou o luto enquanto reconstruía o caminho narrativo da obra. O resultado foi uma combinação sensível entre material de arquivo, entrevistas e memória viva. Outro destaque da programação acessível é o documentário “Quem me quer?”, do diretor Tiago Pinheiro, que celebra a memória afetiva do Cinema São Luiz.
Foto: Brenda Alcântara
Documentário “Quem me quer?”
Após a mostra com acessibilidade, às 16h, o público terá mais uma oportunidade de assistir ao documentário “O Bem Virá”, da diretora Uilma Queiroz, que continua em cartaz e teve sua estreia no circuito de salas na semana passada. Em seguida, às 18h do sábado, será o aguardado momento da pré-estreia pernambucana do longa-metragem “Filhas da Noite”, com direção assinada por Henrique Arruda e Sylara Silvério e vencedor do Troféu Candango na Mostra Caleidoscópio do Festival de Brasília. O filme mistura documentário e ficção para contar as histórias de seis artistas da cena noturna Queer do Recife nos anos 80 e 90. Após a sessão, haverá bate-papo com as protagonistas e diretores do longa.
A manhã do domingo (25), é reservada para os pequenos, com a “Sessão para a Criança”, a partir das 11h. Na telona, a segunda parte da série “Foi Assim, Foi Assado”, dirigida por Chia Beloto e que está sendo exibida pela primeira vez no cinema. Serão exibidos seis episódios, cada um com sete minutos, que contam a história da Teresa, uma menina super curiosa, que vive com sua avó, uma inventora cheia de ideias. Juntas, elas embarcam em aventuras incríveis que atravessam o tempo, revivendo descobertas e momentos marcantes da história da humanidade.
Às 14h, a programação é retomada com a mostra de filmes “Entresonhos – Delirantes Mundos e Outros Universos em 10 Anos de Filmes de Marte”, celebrando a trajetória da produtora pernambucana independente Filmes de Marte, criada em 2015. Será exibida uma retrospectiva com todos os curtas da produtora entre 2015 e 2025. As obras abordam temas como envelhecimento do corpo Queer, a investigação do gênero fantástico e a arte Drag Queen, acumulando mais de 80 prêmios e exibições em mais de 150 eventos internacionais. A sessão será gratuita e incluirá uma conversa entre o público, Henrique Arruda e Sylara Silvério.
Foto: reprodução
Longa-metragem “Praia Formosa”
Fechando a programação deste fim de semana, às 17h do domingo, haverá uma sessão-debate do filme “Praia Formosa”, com a presença da diretora Julia de Simone. O drama mergulha em uma narrativa que entrelaça passado e presente para abordar memórias históricas e afetivas no território do Rio de Janeiro. O longa conta a história de Muanza, uma mulher do Reino do Congo traficada para o Brasil no século XIX, que desperta nos dias de hoje em uma cidade onde os tempos se sobrepõem. Em sua busca por pertencimento, a protagonista percorre espaços urbanos que testemunham resistência, deslocamento e laços de irmandade. “Praia Formosa” é o primeiro longa de ficção de Julia de Simone, diretora carioca com sólida trajetória em documentários e cinema experimental. O filme teve estreia internacional no Festival de Rotterdam (Tiger Competition) e é uma coprodução Brasil-Portugal, com apoio do Hubert Bals Fund e do World Cinema Fund.
Mais informações podem ser encontradas através da página oficial do Cinema São Luiz no Instagram.
Confirma a programação do Cinema São Luiz deste fim de semana:
SÁBADO (24/05/2025)
14h – Sessão VerOuvindo Circula (mostra de cinema acessível) – Gratuita
Gratuita com acessibilidade em libras, audiodescrição e legendas descritivas (Debate com equipe VerOuvindo e convidados)
Gratuita
Wadja
Documentário, 2024, 28’53”
Classificação indicativa: livre
Direção: Narriman Kauane
Sinopse: o documentário biográfico conta a vida e carreira de Marilena Araújo, Wadja, mulher indígena, defensora das causas indígenas, da cultura e fundadora da Escola Bilíngue Antônio José Moreira. Apresenta a sua atuação pioneira na educação indígena e no ensino didático da língua materna do povo Fulni-ô, o Yaathe.
Quem me Quer?
Documentário, 2023, 15′
Classificação indicativa:
Direção: Tiago Pinheiro
Sinopse: um tributo sensível às histórias que orbitam o Cinema São Luiz, espaço emblemático do Recife. A produção mergulha nas memórias afetivas de pessoas que, ao longo dos anos, construíram laços profundos com o cinema, transformando-o em cenário de vivências marcantes, encontros e descobertas. O filme resgata, com delicadeza e emoção, o valor simbólico do São Luiz na paisagem cultural da cidade.
16h – O Bem Virá
Documentário, 2021, 80′
Classificação indicativa: 10 anos
Direção: Uilma Queiroz
Sinopse: treze mulheres, treze ventres, treze esperanças, uma foto. E uma busca pelas mulheres que, em 1983, em uma seca no sertão do Pajeú pernambucano, lutaram pelo direito à sobrevivência, num contexto em que ser mulher era se limitar à função de administrar a miséria.
Ingressos: R$ 10 e R$ 5
18h – Filhas da Noite
Documentário, 2024, 110′
Classificação indicativa: 14 anos
Direção: Henrique Arruda e Sylara Silvério
Sinopse: chamadas por um Globo espelhado tão extinto das pistas quanto suas próprias noites de glória, seis performers veteranas de Recife revisitam seus passados, e revivem suas mais íntimas memórias diante das câmeras. Pioneiras de uma revolução ainda em curso, elas são e sempre serão Filhas da Noite.
Ingressos: R$ 10 e R$ 5
DOMINGO (25/05/2025)
11h – Foi assim, foi assado – Parte 2
Animação, 2018, 45′
Classificação indicativa: livre
Direção: Chia Beloto
Sinopse: Teresa é uma criança muito curiosa, que vive com sua avó, uma inventora de traquitanas, cuja maior invenção é a casa-robô, uma casa tecnológica, construída com peças achadas na rua, e por isso, pode se transformar em diversas máquinas e locais de aventuras. Através da imaginação de Teresa, as personagens cruzam a linha do tempo da história, revivendo grandes e pequenas descobertas da humanidade.
Gratuita
14h – Sessão de Curtas (debate com Henrique Arruda e Sylara Silvério) – Gratuita
Entresonhos – Delirantes Mundos e Outros Universos
Curta experimental, 2024, 6′
Classificação indicativa: 12 anos
Direção: Henrique Arruda
Sinopse: em quantos mundos o seu medo já te prendeu? Esse filme talvez não te dê uma resposta, mas vai te mostrar um pouco dos meus.
Quando Você Vem me Visitar
Curta experimental, 2024, 6′
Classificação indicativa: 12 anos
Direção: Henrique Arruda
Sinopse: em quantos mundos o seu medo já te prendeu? Esse filme talvez não te dê uma resposta, mas vai te mostrar um pouco dos meus.
Verde Limão
Ficção, 2018, 17’45”
Classificação indicativa: 14 anos
Direção: Henrique Arruda
Sinopse: prestes a entrar no palco pela última vez, uma veterana Drag Queen revisita todas as cicatrizes que formam o seu carnaval.
Filhos da Noite
Documentário, 2022, 16′
Classificação indicativa: 14 anos
Direção: Henrique Arruda
Sinopse: Oito homens gays entre 50 e 70 anos compartilham suas memórias, vivências, e imagens noturnas, questionando-se sobre qual lugar seus corpos ocupam agora.
Era Uma Vez Diversiones
Ficcção, 2025, 21’7”
Classificação indicativa: Livre
Direção: Henrique Arruda, Sharlene Esse
Sinopse: Recontando fatos reais inspirados no revolucionário grupo teatral que modificou o fazer artístico da cidade de Olinda nos anos 70, ‘’Era uma Vez Diversiones’’ narra a primeira noite da novata Sharlene Essse, e futura primeira dama trans do teatro pernambucano, na casa de espetáculos mais carismática de um reino não tão distante. Seja bem vindo, e pegue sua pipoca, o espetáculo já vai começar!
Amor by Night
Queer-fi, 2022, 20′
Classificação indicativa: livre
Direção: Henrique Arruda
Sinopse: Vivendo sozinha em sua cápsula, Sharlene Amor Valente é a voz mais ouvida da galáxia, de meia noite às três da manhã. Prepare o seu coração, a sua memória, e liberte-se: está no ar, Amor By Night.
Ainda Não Lhe Fiz Uma Canção de Amor
Romance/Drama, 2015, 15’51”
Classificação indicativa: 12 anos
Direção: Henrique Arruda
Sinopse: Greg e Alessandro estão no quarto, se olhando. O sentimento de culpa e nostalgia daquele momento até pode marcar para sempre a vida dos dois, mas é apenas uma passagem para permitir que o amor caminhe livremente entre eles.
Os Últimos Românticos do Mundo
Queer-fi, 2020, 23′
Direção: Henrique Arruda
Classificação indicativa: 12 anos
Sinopse: 2050. O mundo como conhecemos está prestes a ser extinto por uma nuvem rosa. Distantes do caos urbano, Pedro e Miguel só buscam a eternidade.
17h – Praia Formosa
Drama, 2024, 90′
Classificação indicativa: 12 anos
Direção: Julia de Simone
Sinopse: Muanza, uma mulher natural do Reino do Congo, foi traficada para o Brasil em meados do século XIX. Ao despertar nos dias de hoje, Muanza se depara com um Rio de Janeiro de tempos espiralados, onde figuras do passado e do presente são parte da busca por suas origens no território da cidade. Nesse entrelaçamento de tempos, o filme testemunha a vida que emerge dos espaços da cidade, os gestos de resistência frente à desterritorialização forçada e os afetos que sustentam as relações de irmandade.