Pixe Girls é coletivo formado só por mulheres grafiteiras. Foto: Divulgação/ Arquivo Pixe Girls
No dia 27 de março, celebra-se o Dia do Graffiti, uma data que destaca essa forma de expressão artística que nasceu nas ruas e conquistou espaço no cenário cultural global. Em Pernambuco, o graffiti não é apenas arte, mas também resistência, identidade e inclusão, especialmente para as mulheres que desafiam as barreiras de um meio historicamente dominado por homens.
O graffiti tem suas raízes fincadas na cultura de rua e na luta por visibilidade de grupos marginalizados. Para mulheres artistas, essa luta é ainda mais intensa. Nathalia Carvalho Ferreira, conhecida como Nathê, encontrou na arte urbana um espaço de representação e empoderamento. “O graffiti faz parte da minha trajetória enquanto jovem periférica. Cresci vendo imagens nos muros e foi através da arte que vi, pela primeira vez, uma mulher negra representada de forma empoderada, diferente das imagens estereotipadas que a mídia nos impunha”, conta.
Além da questão identitária, Nathê destaca a importância do graffiti como uma ferramenta de ascensão social. “Para muitas pessoas da periferia, a arte é uma das únicas formas de ascensão social, seja pelo reconhecimento artístico ou pelas oportunidades financeiras que surgem”, explica.
Para o assessor de artes visuais da Secult-PE Mekson Dias, o “Dia Internacional do Graffiti é também uma oportunidade de reconhecer o papel da arte urbana em Pernambuco, que, com sua tradição e inovação, continua a expandir os limites do que é considerado arte e onde ela pode ser encontrada. Ao celebrar essa data, é importante lembrar que o graffiti, em sua essência, é uma forma de manifestação democrática, acessível a todes, que promove o diálogo entre o espaço público e as vozes de quem, muitas vezes, não é escutada”, ressalta Mekson.
Coletivos e a Força da União Feminina
Coletivo Pixe Girls
Se há um espaço onde o graffiti feminino se fortalece, é nos coletivos. O Pixe Girls, fundado por Thábata Marques, conhecida como Tab nasceu como uma resposta ao machismo presente no meio. “Começamos o grupo depois de uma situação em que tentaram impedir que fôssemos grafitar. Nos unimos e dissemos: vamos criar nosso próprio espaço”, relembra Tab. O coletivo começou a crescer organicamente, reunindo mulheres que antes ficavam à sombra de artistas masculinos. “A gente via companheiras de grafiteiros pintando os trabalhos deles, e eles assinando no final. Passamos a questionar e incentivar que elas tivessem sua própria voz”, afirma.
Iara Izna, integrante do Pixe Girls, destaca como a arte de rua se tornou um veículo de luta e resistência. “Meu primeiro contato com o graffiti foi aos 12 anos, quando vi um mural que abordava o racismo ambiental em minha comunidade pesqueira. Aquilo me fez enxergar que a arte não estava ali só para ser bonita, mas também para protestar”, lembra.
Narrativas Trans e o Graffiti Como Ativismo
Para a artista Cigana Magia, que nasceu e cresceu na comunidade de Brasília Teimosa, no Recife, o graffiti é mais do que arte: é ativismo. “Minhas mensagens falam sobre minha transgeneridade e o direito à cidade. É sobre ocupar espaços e dar visibilidade às pessoas trans”, explica. Cigana relembra momentos marcantes em sua trajetória, como quando pintou um mural na Aliança Francesa do Recife e interagiu com pessoas em situação de vulnerabilidade social. “Uma jovem trans em situação de rua viu minha arte e começou a desenhar. Foi um momento muito especial.”
A presença feminina no graffiti pernambucano segue crescendo e se consolidando. Iniciativas como mutirões de arte urbana, oficinas e festivais têm proporcionado mais visibilidade e oportunidades para as artistas. “Hoje, estamos ocupando espaços que antes eram negados a nós. A arte urbana é uma forma de dizer: estamos aqui, existimos e resistimos”, conclui Nathê.
O Dia do Graffiti é mais do que uma celebração da arte urbana; é um reconhecimento da luta e do talento das mulheres que transformam muros em narrativas visuais de resistência, identidade e empoderamento.