Foto: Catarina DeeJah/Divulgação
O artista Humberto Magno
“Artista-Reincidente Humberto Magno: Vestígios de Estranha Civilização” exibe ao público um conjunto de obras inéditas do artista plástico falecido em 2021. A mostra, que abre nesta quinta-feira, dia 30, às 18h, no Museu Regional de Olinda, apresenta 25 trabalhos realizados em isopor, resultado de pesquisa e técnica a que o artista, mais conhecido por sua pintura, se dedicou por mais de 30 anos, compondo e pintando isopores coletados nas ruas do Recife.
A exposição póstuma da obra guardada por Humberto Magno é um desvelamento da criação artística dele. Até então, algo de sua criação em isopor fora apresentado apenas em 2015, na mostra “Permanência da Arte”, realizada na casa do artista Luciano Pinheiro, em Olinda. À época, Pinheiro ressaltou que o amigo tinha “mania de se esconder, de não mostrar muito do seu trabalho”, como registrou José Cláudio em texto publicado na Revista Continente.
A produção artística de Humberto Magno não ganhava exposição desde 2019, quando ocupou parte da Arte Plural Galeria, na mostra “Vidas Paralelas, Olhares Dissonantes”, junto com obras de Jairo Arcoverde, sob curadoria de Raul Córdula. De Magno, os visitantes viram pinturas com guache sobre papel que haviam tempo guardadas. “Eu tinha muita vergonha de mostrar as coisas que fazia. Hoje eu relaxo, vejo com interesse”, disse, à época, ao Jornal do Commercio.
A mostra de agora, “Artista-Reincidente Humberto Magno: Vestígios de Estranha Civilização”, acontece dentro do circuito de exposições que comemora os 40 anos do Ateliê Iza do Amparo, que Humberto fundou junto à artista com quem foi casado e teve dois filhos, os também artistas Paulo do Amparo e Catarina DeeJah. O circuito “Da Casa-Ateliê de Artistas-Etcétera ao Agora: Duas Gerações, Quatro Desdobramentos” tem incentivo do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura — Funcultura, do Governo do Estado.
Curadora da exposição, Ana Gabriella Aires fez um trabalho de resgate e pesquisa da obra de Humberto Magno junto a Paulo do Amparo, filho do artista. Ela reflete sobre tempo e matéria na experimentação com isopor: “Tendo iniciado a relação com o isopor no início dos anos 90, o artista investiu na inusitada relação com esse material tão efêmero, sem valor comercial, e que impressiona, mesmo enquanto peça de arte, ter resistido, mesmo que, ironicamente, o isopor seja percebido por sua demora em se decompor na natureza”.
Ana Gabriella escreve, ainda, no texto curatorial, que, sem necessidade de definir se os trabalhos são pinturas expandidas ou esculturas, interessa observar que Humberto Magno “fez de diversas peças descartáveis, possível lixo, interessantes objetos estranhos que carregam vestígios de nossa civilização”. Ela, também, direciona o espectador a notar “vestígios do urbanista, do pintor, do artista que quis guardar consigo um tanto da cidade, da paisagem em ruína”.
Nascido em Garanhuns, além de pintor, Humberto Magno era urbanista. Formou-se em Salvador, onde começou a trabalhar com pintura e produção de murais. Chegou a Olinda juntamente com Iza do Amparo e fundaram juntos, em 1981, na rua do Amparo, a casa-ateliê, em um momento efervescente da cena das artes plásticas pernambucana, especialmente, no Sítio Histórico de Olinda, onde estavam estabelecidos dezenas de ateliês.
Iza do Amparo e Humberto Magno, ao lado de Rodolfo Mesquita, Ismael Caldas, Jairo Arcoverde, Ney Quadros, Roberto Amorim, Anchises Azevedo, Montez Magno, eram participantes de um grupo (não um coletivo) que, nas palavras do curador Raul Córdula, “contestaram o status quo da elite da arte no Recife”, naquele momento.
Obra de Humberto Magno
Obra de Humberto Magno
4O ANOS DE UMA CASA-ATELIÊ — Há mais de 40 anos, Iza do Amparo é matriarca de uma casa-ateliê onde em todo esse tempo seus moradores (se) criaram e (se) criam compartilhando experimentações artísticas. Uma casa também de portas abertas para a rua e lembrada por seus frequentadores como um lugar de acolhimento, fruição artística e referencial na vida cultural do Sítio Histórico de Olinda.
A celebração deste tempo — que, mais do que um bom punhado de anos, significa uma trajetória longeva de criação na convivência com os outros — se dá com o circuito “Da Casa-Ateliê de Artistas-Etcétera ao Agora: Duas Gerações, Quatro Desdobramentos”, que estreou em julho, com a mostra “Artista-Cientista Paulo do Amparo: Das Manufeituras à Zoada do Teu Momento”.
Já em outubro, o circuito deu continuidade com a mostra “Artista-Prática Catarina DeeJah — De Que País Vem Este Carnaval? Se o Oriente Nasce em Meu Quintal”. E agora, após a exibição dos filhos desta casa-ateliê, é a vez de exibir o trabalho de Humberto Magno, artista com quem Iza do Amparo gestou e criou seus filhos e o ateliê — quando juntos chegaram a Olinda, em 1981.
Curadora do projeto, Ana Gabriella Aires enfatiza que este circuito é “uma oportunidade de conhecer ou rever Iza, Humberto, Paulo e Catarina em quatro exposições articuladas pelo que são eles de artistas-etcétera. E o quanto isso que, parece, sempre foram e vão juntos sendo, vai-se transformando pelo que conviveram ou convivem, família que são”.
“Artista-etcétera, conceito emprestado do artista, escritor, curador e crítico Ricardo Basbaum, refere-se à situação do artista que ‘questiona a natureza e a função de seu papel como artista’ e que possui ‘fortes ligações com os circuitos locais em que estão inseridos’.”
Serviço“Artista-Reincidente Humberto Magno: Vestígios de Estranha Civilização” Abertura: dia 30 de janeiro, das 18h às 21h Visitação: até 22 de fevereiro — de terça a domingo, das 10h às 16h; com monitoria de quinta a domingo, das 14h às 16h Museu Regional de Olinda — Rua do Amparo, 128, Sítio Histórico de Olinda