Juana Carvalho/SecultPE/Fundarpe
Noite para os Tambores Silenciosos de Olinda
A Noite para os Tambores Silenciosos de Olinda chega à 26ª edição, nesta segunda-feira (24), a partir das 20h. A concentração acontece na Praça de São Pedro. Depois, o cortejo com as dez nações de maracatu realizam o percurso que vai da Rua do Amparo até o Largo da Igreja do Rosário dos Homens Pretos. O evento conta com o apoio do Governo do Estado, por meio da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).
Uma noite de fé, tradição e resistência. O encontro dos maracatus de baque virado de Olinda em um grande cortejo pelas ruas do Sítio Histórico, celebrando a cultura afro-brasileira e reverenciando os ancestrais. À meia-noite, a grande saudação no Largo do Rosário encerra esse momento único de conexão entre os maracatus e o sagrado.
Em Olinda, a presença das populações remanescentes do continente africano ocorreu, ainda no século 16, quando foram trazidos escrizavos da Guiné, a pedido de Duarte Coelho, para o trabalho nos engenhos. Esse contingente, que com o passar dos anos só cresceu, no início do século 17 construiu para seu uso a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, em que estabeleceu seu local de reunião para efeito dos cultos da Igreja Católica, convívio da comunidade negra, troca de saberes e para a realização de suas festas profanas.
Com a invasão holandesa veio a debandada e muitos dos escravizados foram para Quilombo dos Palmares ficando tanto a Igreja como a própria Olinda abandonadas. Em 1715 os negros já haviam restaurado seu espaço sendo fundada a Confraria de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.
Das imposições do poder vigente e da resistência cultural dos negros, veio o sincretismo, que ajustou de maneira crioula os calendários e os ritos de origem africana. O Carnaval, festa do calendário cristão que precede a Quaresma, e que é uma licença, uma pausa, é também um momento de expressão das culturas afrodescendentes.
Segundo a historiadora Aneide Santana, “é da década de 1990 a reativação e o aparecimento em Olinda dos grupos culturais com produções artísticas inspiradas nas raízes de nosso povo. Esse movimento, já conhecido internacionalmente, bebeu muito nas fontes alimentadas pelo amor e pela obstinação dos afrodescendentes por suas culturas, aliados especialmente a sua criatividade e adaptação. Por tudo isso se faz a festa, partilha-se o Largo do Rosário e tocam-se os tambores. A convocação é para todos que de alguma maneira se beneficiam desse acervo, ligados ou não a fundamentos religiosos, mas que fazem parte do movimento”.
Todos os anos, em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, na semana que antecede o Carnaval, acontece a Noite para os Tambores Silenciosos de Olinda, que se formou a partir de uma obrigação religiosas dos maracatus de Olinda. Contando com a participação dos Maracatus Nação Leão Coroado, Nação Camaleão, Nação Badia, Nação de Luanda, Nação Maracambuco, Nação Pernambuco, Nação Estrela de Olinda, Nação Tigre e Sol Brilhante de Olinda.
A celebração tem início com a concentração de todos os maracatus nos Quatro Cantos, no Sítio Histórico de Olinda, de onde todos seguem em cortejo pela Rua e Largo do Amparo com destino à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Na chegada cada um canta algumas loas, dando espaço para o próximo, até a chegada do último quando se reúnem para a realização do ritual religioso que começa a meia-noite, com cantos africanos entoados pelo zelador de santo.
Durante a cerimônia a frente da igreja é banhada de perfume e, no fim, acontece um dos momentos mais emocionantes da cerimônia, o rufar dos tambores que permanecem em silêncio durante a celebração, acompanhados da já tradicional queima de fogos.
Serviço:
Noite para os Tambores Silenciosos de Olinda – concentração na Praça de São Pedro e cortejo até os Quatro Cantos em direção à Igreja do Rosário, segunda-feira (24), a partir das 20h
Maracatus participantes da AMO:
O Maracatu Leão Coroado, fundado em 1863, é um dos mais antigos maracatus em atividade no Brasil. É considerado Ponto de Cultura pelo Ministério da Cultura (MinC) e Patrimônio Vivo de Pernambuco desde 2005.
O Maracatu Nação de Luanda foi fundado em 18 de setembro de 1997. O grupo foi fundado por Antônio Roberto Nogueira Barros, conhecido por Roberto, que, antes de fundar o Nação de Luanda, já havia atuado em outros maracatus.
O Maracatu Nação Pernambuco foi fundado em 1989. Atuando em teatros tradicionais, palcos de festivais, realizando desfiles nas ruas com até 40 tambores e 300 desfilantes, gravando discos e ministrando oficinas, o Nação Pernambuco nasceu com o objetivo de dar uma amplitude maior ao universo do maracatu, até então restrito ao período carnavalesco.
O Maracatu Nação Camaleão foi fundado em 8 de abril de 1990, pelo mestre Márcio Carvalho de Lima, Luís Pernambuco, Alexandre Alves Dias e Plínio Victor, na comunidade do Amaro Branco, em Olinda. Lá ficou por pouco tempo partindo, em seguida, para o Varadouro, na Rua da Boa Hora.
O Maracatu Nação Maracambuco foi fundado em 9 de Junho de 1993 com a missão divulgar, preservar e promover a cultura pernambucana, em especial o maracatu de baque virado, utilizando a cultura como ferramenta de transformação social e atividade turística. Em 2013 foi agraciado com a Ordem do Mérito Cultural, prêmio concedido pelo governo federal.
O Maracatu Nação Badia, fundado em 4 de outubro de 1995, entidade sem fins lucrativos é destinado à profissionalização sócio, educacional, cultural e recreacional de jovens e adultos tendo como objetivo a divulgação da cultura musical folclórica do maracatu com grupo de percussão pesada e fina.
O Maracatu Nação Tigre, fundado dia 6 de janeiro de 1975 por Melquiades de Sena Reis e sua esposa, dona Lourdes, inicialmente localizado no bairro de Campo Grande, após a cheia de 1975 mudou-se para Peixinhos, bairro onde até hoje está localizado. Em 2010 o neto do casal, Fabiano, assumiu o maracatu desfilando pelos principais corredores carnavalescos de Recife e Olinda.
O Maracatu Nação Estrela de Olinda foi fundado em 2003 pelo Mestre Ivanildo de Oxossi, percussionista e tirador de loa, e criado pelo projeto Agente Jovem, formado por crianças e adolescentes das comunidades dos bairros olindenses de Guadalupe, V8 e V9 no geral.
O Maracatu Nação Sol Brilhante de Olinda foi fundado em 1992 pelo mestre Djair Gomes, junto com seus pais e irmãos, a partir de uma iniciativa familiar. Inicialmente criado como uma nação mirim, suas cores representativas eram o verde e o amarelo e seu orixá patrono era Ibeji. Na Rua do Rotar, no bairro do Varadouro, em Olinda, mestre Leandro Gomes, sobrinho do mestre Djair Gomes, teve a iniciativa de discutir o retorno do Nação Sol Brilhante. O desejo foi concretizado em 29 de setembro de 2017, quando a nação foi refundada, composta pelos integrantes da época mirim, já adultos, mantendo viva a essência do grupo.