Foto: Jefferson Guilherme
Quarteto Tromboneando lança álbum que mistura música clássica e cultura pernambucana
O Quarteto Tromboneando, formado por jovens músicos da Zona da Mata Norte de Pernambuco, lançou o álbum “Quarteto Tromboneando e os Sons Canaviais”. O trabalho, já disponível gratuitamente no YouTube, estabelece uma ponte entre o erudito e o popular, transformando ritmos tradicionais da cultura pernambucana em composições instrumentais contemporâneas. O projeto foi contemplado pelo 6º Edital do Programa de Fomento à Produção em Música de Pernambuco – Funcultura (2021/2022), que incentiva artistas independentes a valorizar as expressões regionais.
O disco nasce em uma região que é berço da cultura canavieira do país, território que, desde o período colonial, concentrou engenhos de açúcar e se tornou um dos centros mais pulsantes da cultura afro-brasileira. Foi ali, entre a cana, o batuque e as festas populares, que surgiram expressões reconhecidas como patrimônio cultural do Brasil, como o maracatu rural, o cavalo marinho, o coco de engenho e a ciranda.
Essas manifestações, que misturam heranças africanas, indígenas e europeias, são a base do novo trabalho do quarteto. Em Os Sons Canaviais, o trombone assume o papel de narrador das tradições e recria, pela via instrumental, a paisagem sonora que ecoa dos engenhos e das comunidades rurais da Mata Norte.
O trombone é um instrumento de sopro da família dos metais, criado na Europa no século XV e reconhecido pelo som encorpado e pela vara deslizante — o slide — que permite ao músico alterar o comprimento do tubo e produzir notas contínuas e expressivas, quase como uma voz humana.
Chegou ao Brasil junto com as bandas militares portuguesas, no período colonial, e logo se espalhou pelas festas populares e procissões religiosas. Com o tempo, saiu dos cortejos oficiais e ganhou as ruas, os coretos e os carnavais.
No Nordeste, especialmente em Pernambuco, tornou-se presença marcante nas orquestras de frevo, nas bandas de pífanos e nos maracatus, onde o som grave e vibrante do instrumento passou a dialogar com o ritmo dos tambores, tornando o trombone parte viva da memória musical brasileira.
“O Tromboneando nasceu da vontade de traduzir nossa paisagem sonora. Tocamos o que vivemos: o barulho do engenho, o toque do maracatu, o vento dos canaviais”, afirma Felipe Vieira, trombonista e diretor musical do projeto.
Gravado no Studio Carranca, o álbum conta com participações de Alexandre Rodrigues, Laís de Assis, Nino Alves, Henrique Albino e Neris Rodrigues, além das vozes poéticas de Mestre Bi e Nailson Vieira, referências da tradição oral e da cultura afro-pernambucana. A produção geral é de Larissa Michele, com mixagem e masterização de Alison Santos e arte de capa assinada por Adeilson Nascimento.
O quarteto surgiu em 2017, no Conservatório Pernambucano de Música, quando jovens trombonistas da região decidiram explorar o repertório brasileiro com um olhar voltado à cultura local. O grupo é formado por Felipe Vieira, Flávio Cruz, Larissa Michele e Will Dias. Desde então, o Tromboneando se firmou como o único quarteto de trombones ativo na Zona da Mata e um dos poucos no Nordeste dedicados à música popular nordestina.
A proposta é unir o rigor técnico do erudito à pulsação da cultura popular, conectando a estrutura da música de câmara com a ancestralidade da música afro-brasileira. O resultado é uma sonoridade híbrida, de sopros e ritmos, que celebra a herança de um Brasil profundo e criativo. “O erudito nos deu estrutura. O popular nos deu alma. Essa mistura define nossa identidade”, resume Larissa Michele, produtora do EP.