O Festival Pernambuco Meu País 2025 segue reafirmando sua potência como território de encontros, trocas e reinterpretações da cultura popular. Na tarde deste sábado (26), a programação do espaço País das Conexões Urbanas ofereceu ao público um mergulho profundo na tradição, sem abrir mão da ousadia e da reinvenção, que são marcas registradas da arte produzida em Pernambuco.
Foto: Simon Filmes/Secult-PE/Fundarpe
Polo contou com apresentação de xaxado
Entre os destaques da programação, o Grupo Danças, Arte e Movimento levou à Praça de Santo Antônio uma apresentação envolvente de xaxado, homenageando a resistência cultural do Sertão com passos marcados pela história, identidade e pertencimento.
Em seguida, a performance “Flor de Urtiga”, da atriz e performer Renna Costa, natural de Buíque, arrebatou o público com sua força simbólica, cênica e poética. A montagem, dirigida por Gabi Benedita, de Arcoverde, e com trilha ao vivo assinada pela mestra de maracatu Manu Souza, também de Arcoverde, apresentou uma releitura da figura de Catirina, que é personagem tradicional dos autos natalinos e folguedos populares.
“Essa Catirina que eu trago à cena cansou da língua do boi. Cansou da submissão. Ela larga o Pai Francisco e parte pelo mundo em busca de outras Catirinas, de mulheres livres que conhecem seus desejos, que sabem cuidar, curar, plantar. Mulheres como nossas avós, mães, parteiras, rezadeiras. A ‘Flor de Urtiga’ nasce como esse chamado ancestral à liberdade e à autonomia”, expressa a artista Renna Costa.
Foto: Simon Filmes/Secult-PE/Fundarpe
Renna Costa performou na Praça de Santo Antônio
A performance evoca a palhaça de rua, a Catita popular, que sempre existiu nos bastidores da cultura tradicional, mas agora ganha voz e corpo feminino, saindo do campo da caricatura e assumindo um discurso libertador. É uma obra que convida o público a brincar, não apenas no sentido infantil, mas como exercício de imaginação, liberdade e reconstrução.
Segundo a curadoria do festival, a escolha da performance para o País das Conexões Urbanas se deu por seu poder de deslocar a cultura popular para novos corpos e narrativas, propondo uma reflexão sobre o papel da mulher no enredo ancestral brasileiro. Renna Costa retorna à programação neste domingo (27), com o espetáculo “O Problema é a Cerca”, na Casa da Cultura, evidenciando sua versatilidade cênica e o compromisso artístico com as urgências do nosso tempo.
A cultura viva pulsa onde há coragem de reinventar as raízes. E, como aponta a “Flor de Urtiga”, “a cada esquina a gente encontra uma Catirina!”.