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Cultura

Xukuru do Ororubá: imersão na Casa das Sementes ensina sobre a potência da floresta e o respeito aos encantados

16 de agosto de 2025
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Foto: Juana Carvalho/Secult-PE

Ian Xukuru em vivência na Casa das Sementes

Por Andréa Almeida

Entre montanhas da Serra do Ororubá no município de Pesqueira, Agreste de Pernambuco, aprende-se sobre se comunicar com os ventos, ler paisagens, escutar florestas e respeitar os encantados. Os sapatos começam a apertar os pés que pedem o contato com a terra, quando o recado vem em forma de toante: “Pisa leve e devagar para não tropeçar, mas pisa leve e devagar para conhecer o lugar”. Quem aconselha a pedir licença com chakras abertos e sentidos aguçados é Iran Xukuru, uma das lideranças indígenas do povo Xukuru de Ororubá que media vivências entre o mundo espiritual e o terreno na Casa das Sementes Mãe Zenilda. Em altitude estimada em 1.125 metros acima do nível do mar, o espaço cultural sediou uma imersão proposta pelo País da Cultura Alimentar neste sábado (16/08), dentro da programação do Festival Pernambuco Meu País, iniciativa do Governo de Pernambuco através da Secretaria de Cultura do Estado (Secult-PE).

A Casa das Sementes é um lugar que reúne cultivo, alimento, cura, artesanato e contação de histórias. E é lá onde Iran Xukuru, ao lado de outras liderenças, transmite saberes sobre o “bem viver” com a natureza e a potência das florestas. Ele ensina sobre sutilezas e reza sem palavras, que é a reza de intenção. Fala também sobre transformação e não padronização, intuindo que tudo que é vivo é regenerativo. Agrônomo, curandeiro e mestre em Ciência do Solo, notou que precisava “desformar”. Idealizou o espaço cultural junto ao povo Xukuru para propagar os conhecimentos e saberes ancestrais.

“A nossa ideia na época era ter um espaço de formação e de encontros, aí fizemos o projeto da Casa Semente com essa arquitetura redonda, circular, inspirada um pouco na própria dança do toré, mas também para trazer essa circulação do conhecimento. Então aqui a gente não só guarda sementes, a gente inverte, nós somos sementes-guardiãs, porque o povo Xukuru é o povo-semente, germina para luta, para resistência. Essa germinação para insistir nessa condição de vida conectada à natureza, ao encantamento. E essa coisa do circular é também para a gente sair desse processo de formação, voltar para a ‘desformação’, sair dessa forma que é imposta por esse mundo globalizado. Experimentar um tempo que é um tempo dessa cosmologia, dessa forma de vida que é um tempo, espaço, tempo, elemento indissociável do encantamento. Então é uma versão de um tempo espiralar, que a gente fala, eu trago o termo como ‘encantário’. Ou seja, é um calendário, mas não é só tempo Khrónos, não passa, não se limita a isso. Ou seja, é um outro tempo ou não tempo, atemporal. É você viver e experimentar a vida na sua complexidade”, revela Iran Xukuru.

Foto: Juana Carvalho/Secult-PE

Casa das Sementes

Entre uma história e outra, ele também conta que aprendeu a ser semente com o avô, quem era “doutor de plantas”, ensinava sobre os segredos da natureza e dos encantados: “Meu avô era guardião de uma semente chamada Feijão de Corda e Galo de Campina. Um dia ele perdeu a semente e me pediu para achar outra e trazer de volta. Eu não achei antes dele morrer. Mas se tornou a minha missão de vida achar e plantar meu avô através das sementes. Depois entendi que a missão é seguir o rastro de semente com nome de passarinho e hoje estou aqui por seguir essa missão do meu avô. Xukuru é a terra das sementes. Sementes-guardiãs desse encantamento”. Durante a contação, Iran Xukuru vai relembrando como era a infância na Serra do Ororubá, quando brincava com vagalumes, via rastro de fogo no céu que somente aparecia quando sentado em cima de pedras sagradas e hoje se define como um ser de luz da “vagalumagem”. Luz essa do pensar e do caminhar, entre reuniões com os espíritos encantados do povo Xukuru.

“E a gente faz uma provocação sobre as sementes, porque a semente não é só o material genético que é semeado. A semente é tudo aquilo que garante luta, resistência, transformação. Então a gente trabalha aqui com a descoberta, transformações de criação cosmológica. Chega de ideias, eu sei que Krenak não quer falar isso, está longe dele. Mas chega de ideias para adiar fim de mundo. O que a gente está propondo aqui são ideias. Ideias para voltarmos a ser produtores de mundo. Você já ouviu falar da poética, da cosmo-poética do regresso? Ou seja, volta à Terra para, nessa desformação do humano desencantado, passar a ser humano-natureza na forma de ‘humanosfera’, camada humana, invólucro de proteção à Terra. O desafio é voltar a ter cheiro de terra, cor de terra, saber sentir a ciência da terra, se comunicar com os outros seres conectados com a terra, ou seja, o que a gente chama aqui de encantação é a comunicação com a Terra, e aí você vai saber que vai chover. Por quê? Não dá para explicar porque não tem palavra para explicar, mas eu sei que vai chover porque a natureza está para nos dizer, então é sobre isso e muito mais. Então a Casa das Sementes é uma ferramenta, é um instrumento para que nos ajude. Esse encaixe para, no nosso caso, a ecologia dos encantados”, expressa Iran Xukuru.

Foto: Juana Carvalho/Secult-PE

Soberania alimentar

Durante a imersão na Casa das Sementes, também se aprende sobre o cultivo e o consumo de alimentos orgânicos. Lá, maxixe, xerém, legumes, beiju, mandioca ralada, macaxeira, farinha de milho, hortaliças… Tudo que é consumido é plantado e colhido nos quintais da Serra do Ororubá, onde se alcança uma soberania alimentar graças à conexão com o “bem viver” ensinado pelos ancestrais, espíritos encantados que aconselham e sopram aos ouvidos sensíveis os passos a seguir nessa guiança da vida. No território indígena a cura vem como aprendizado deixado pelos antepassados e também descobertos nesse movimento vivo de transformação, criação e perpetuação dos saberes. No local, a Sala de Medicinas Sagradas da Biodiversidade Xukuru do Ororubá é um laboratório que produz fitoterápicos, promovendo saúde através das plantas cultivadas no território. Hidratante, protetor labial, lambedor, remédios diversos, óleos, shampoo, sabonetes, tinturas, entre outros produtos essencialmente naturais, são criados pelas mãos dos indígenas e também comercializados numa lojinha que fica dentro da Casa das Sementes.

“A Casa das Sementes tem um trabalho há muito tempo com a ecologia, com a questão do banco de sementes, e está dentro desse território do povo Xukuru de Ororubá. A gente precisa valorizar realmente e abrir esses espaços para que as pessoas também venham até aqui. Então é uma oportunidade de aproveitar o trabalho que eles já fazem e compartilhar com o povo que está participando do Festival Pernambuco Meu País. Ano passado a gente já teve essa vivência aqui. Então isso tudo o que eles estão construindo, seja na questão da cura medicinal, que eles trabalham com fitoterápicos, seja no artesanato, que eles também tem aqui um ponto de artesanato, e da cultura alimentar, é importante para essa partilha”, ressalta a coordenadora de Gastronomia da Secult-PE, Dianne Souza.

Foto: Juana Carvalho/Secult-PE

Sala de Medicinas Sagradas da Biodiversidade Xukuru do Ororubá

Sobre o povo Xukuru do Ororubá – Na Serra dos Ororubás, hoje, estima-se que há cerca de 12 mil Xukurus. Os Xukuru do Ororubá são conhecidos pela luta pela demarcação de suas terras e pelo reconhecimento de seus direitos como povo indígena. A história dos Xukuru do Ororubá é marcada por conflitos com fazendeiros e políticos locais, além de mobilizações para afirmar seus direitos.

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